O Brasil está virando uma democracia a la China porque temos um Congresso Reborn
Não são os grandes buracos que afundam um navio — basta uma fresta. Não foram decisões escandalosas que transformaram o Brasil num país onde a lei se curva a perfis autoritários, mentes despóticas e egos inflados que buscam, acima de tudo, adrenalina e poder. As aberrações jurídicas não chegaram como avalanches. Vieram sorrateiras, travestidas de “defesa da democracia”.
Quando prenderam o deputado federal Daniel Silveira por suas falas, o Parlamento se calou. Quando ignoraram a anistia concedida a ele, houve lamentos, mas nenhuma ação concreta. Quando Felipe Martins foi preso por uma viagem que jamais realizou — e que, ainda que tivesse ocorrido, não seria crime —, o Congresso apenas observou. As prisões em massa no dia 8 de janeiro de 2023, sem o devido processo legal, geraram notas de pesar, mas nenhuma resposta efetiva. A prisão de Braga Neto sequer provocou indignação. E, diante da censura nas redes, da derrubada de perfis e vozes ao longo dos últimos anos, o Parlamento permaneceu omisso.
Parece que tudo é normal... até acontecer conosco. Cada nova arbitrariedade, cada novo precedente, alarga uma rachadura que se torna irreparável. A indignação popular, os atos de solidariedade nas redes, os protestos — parecem ecoar no vazio.
Enquanto isso, o rombo nos bolsos dos mais pobres cresce. As cifras fazem corar qualquer comparação com mensalão ou petrolão. E, mesmo assim, ninguém ousa falar em impeachment. O absurdo virou cotidiano. O que antes seria manchete de plantão, hoje é noticiado como se fosse apenas mais um dia qualquer.
No Brasil de hoje, o único absurdo é reagir aos absurdos. O único crime é denunciar o crime. E, agora, estamos a um passo de sermos calados definitivamente nas redes sociais.
A censura não é mais uma possibilidade remota. Ela bateu à porta — de todos, de todas e de “todes”.
O Congresso, que deveria ser o pilar da democracia, assiste inerte enquanto a Suprema Corte legisla, investiga, prende e julga — até a senhora idosa, de Bíblia na mão, em protesto pacífico.
É uma vergonha ter que buscar socorro no exterior porque o poder que deveria proteger o povo se rende, de braços erguidos, a um Judiciário armado até os dentes — não de leis, mas de ilegalidades, injustiças e arbitrariedades.
A China virou referência de democracia. O golpe — aquele que nunca existiu — tornou-se realidade nas telas da Globo. A palhaçada se repete, sem pausa, gerando náusea, indignação e, pior, impotência.
A quem recorrer, se aqueles a quem outorgamos o poder assistem, paralisados, a um roteiro tão previsível quanto devastador? Como falar, se falar virou crime hediondo?
Estamos à deriva. E se, por ventura, alguém lá fora tentar nos salvar, isso será classificado como ameaça à soberania nacional.
O preço de termos um Congresso reborn não será apenas alto. Será perda total. Custará tudo.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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