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A cultura da paz ganha reforços no Amapá. Serão 35 novos mediadores aptos e certificados pelo CNJ. FOTO: TJAP

Nesta sexta-feira, 7, o auditório do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP) foi palco da formatura da segunda turma de mediadores judiciais certificados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), marcando o encerramento da 20ª Semana Nacional de Conciliação. Ao todo, 35 novos mediadores receberam o certificado após uma intensa jornada de formação teórica e prática.

O curso exigiu de cada participante 60 sessões de mediação, sendo 20 como observador, 20 como co-mediador e 20 como mediador principal — conduzindo casos reais, aplicando técnicas aprendidas e contribuindo para acordos entre as partes, sempre que possível.
Com a certificação, todos os formandos passam a integrar o Cadastro Nacional de Conciliadores e Mediadores Judiciais, podendo atuar em qualquer unidade da federação mediante registro prévio nos tribunais.

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Novos mediadores fazem o juramento baseado em condutas preconizadas na resolução 125/2010 do CNJ. FOTO: TJAP

“A paz não se impõe, ela se constrói”

A oradora da turma, Fernanda de Oliveira Picanço, emocionou os presentes ao destacar a transformação pessoal e profissional proporcionada pelo curso.

“O curso de mediadores judiciais nos ensinou a parar de olhar apenas para os processos e começar a olhar para as pessoas. Ele nos deu o jeito da escuta ativa e verdadeira, do respeito total às diferenças e a certeza de que a conversa é o caminho mais bonito para a justiça”, afirmou.

“Ser mediador é compreender que a paz não se impõe, ela se constrói. É estender a mão quando o outro só vê o conflito; é acolher a dor disfarçada de raiva e a frustração mascarada de resistência. Mediar é servir com empatia, sem tomar partido, com grande amor pelo equilíbrio. É silenciar o próprio ego para que a voz da paz possa ser ouvida.”

Fernanda agradeceu ao TJAP pelo investimento na política pública de tratamento adequado de conflitos, aos instrutores pela condução técnica e sensível, e ao NUPEMEC — Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos —, que definiu como “a alma da transformação silenciosa e profunda dentro do sistema de justiça”.

“O NUPEMEC é o espaço onde se semeia a cultura da pacificação social, onde cada acordo representa uma vitória da empatia sobre a disputa, da escuta sobre o silêncio, da humanidade sobre a frieza dos processos”, completou.

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Cejusc Santana formou 12 novos mediadores sob a coordenação de Neide Santos, Aline Reis e Núbia Garcia.

Justiça que escuta e transforma

O juiz Marconi Pimenta, coordenador do Cejusc Zona Norte e também formando, destacou que pretende somar forças por um Judiciário mais leve e eficaz.

“Nós, como conciliadores e mediadores, seremos o veículo que facilita o diálogo entre pessoas em conflito, cada uma defendendo sua verdade. Com a escuta ativa, empatia e comunicação não violenta, queremos que saiam das sessões cientes de que nada perderam — e de que, na verdade, ambas ganharam. Acreditamos na justiça onde todos ganham”, disse.

O magistrado refletiu sobre o impacto pessoal do curso após 33 anos de carreira:

“Muitas vezes entramos no automático — condena, absolve, absolve, condena — e esquecemos de ouvir. Uma conta de luz pode representar o direito à vida de alguém. É preciso acolher com respeito e empatia. Quando ouvimos verdadeiramente, o outro reconhece que o conflito pode ser resolvido com diálogo e não com disputa.”

Ele também criticou o excesso de recursos judiciais que alongam processos desnecessariamente:

“A ansiedade tomou conta das nossas vidas. Muitas questões poderiam ser resolvidas se tivessem sido bem conduzidas. Precisamos criar ambientes seguros e acolhedores, provar que esse diploma não é por acaso. Vamos contribuir para uma justiça que resolve de verdade.”

Em tom inspirador, completou:

“A cultura de paz precisa caminhar para todos os cantos da cidade, para nossas famílias e amigos. Somos garantidores dos direitos fundamentais — com diálogo, respeito e humanidade. Só quem serve sabe o que é felicidade. E vocês, mediadores, serão aqueles que ajudam a tirar os fardos das pessoas, com técnica, empatia e um simples aperto de mão.”

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Juíza Joenilda Lenzi, desde 2015 luta por uma cultura do diálogo no ambiente judicial. FOTO: TJAP

“Construir pontes com o coração”

O procurador e chefe da Câmara de Conciliação da PGE, Dr. Otni Alencar, destacou a complexidade e a sensibilidade da função de mediador:

“A mediação parece fácil, mas não é. Por trás dela há toda uma complexidade de normas jurídicas — e, acima de tudo, a necessidade de encarar essa complexidade com o coração e a alma abertos, sem preconceitos. Ser mediador é ter a missão de construir pontes entre pessoas e instituições.”

“A profissão do futuro”

A juíza Joenilda Lenzi, titular da 3ª Vara de Família e coordenadora do Cejusc Rosemary Palmerim, também celebrou o avanço da cultura da mediação no estado.

“Quando comecei minha jornada de mediadora, em 2015, sonhava em ver pessoas do próprio Judiciário — juízes, promotores, procuradores, advogados — investindo nesse conhecimento. Essa turma é especial porque mostra que o Judiciário quer aprender a dialogar de verdade.”

Ela reforçou que ser mediador exige coerência entre teoria e prática:

“Não basta ter o diploma. É preciso exercitar o que foi aprendido, primeiro dentro de si, em casa e nos círculos sociais. Só assim alguém se torna um mediador por excelência.”

Por fim, a magistrada destacou que a profissão de mediador já é uma realidade em todo o país e avança para sua regulamentação no Amapá. Interessados em participar das próximas turmas de formação devem procurar o Judiciário para obter informações.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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