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As obras do governo são feitas em meio aos atendimentos e os pacientes internados. Imagem: arquivo SINDSAÙDE/AP

“TEMOS 5 BANDEJAS DE PARTO E 9 BANDEJAS DE CESÁREAS PARA O ESTADO TODO”, DENUNCIA VICE-PRESIDENTE DO SINDSAÚDE

Em entrevista exclusiva ao nosso portal, a técnica de enfermagem e vice-presidente do SINDSAÚDE, Deolinda Nascimento, fez um duro desabafo sobre a crise na saúde pública do Amapá, denunciando as condições precárias de trabalho, o assédio moral sofrido pelos profissionais e o rompimento quase total do diálogo entre governo e servidores.

“Os repousos são desumanos. Muitos trabalhadores descansam em colchonetes no chão. Não temos água potável para beber – os servidores fazem coleta para comprar. Falta remédio, falta insumo, e, além de tudo isso, sofremos um gritante assédio moral”, afirma Deolinda.

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A sindicalista recebe várias denúncias pelo whatsapp, seja de servidores, seja de pacientes, sobre o serviço público de saúde do Estado.

Falta de diálogo e condições precárias

Segundo a dirigente sindical, hoje o SINDSAÚDE conta com cerca de 4 mil sindicalizados, dos quais 70% são da enfermagem. Ela descreve a relação do sindicato com o governo estadual como “desgastada, sem respeito e desumana”.

Deolinda aponta que, desde a saída da ex-secretária Silvana e a criação da FUNDESA, a gestão não mantém mais diálogo efetivo com a categoria. “A comunicação é mínima e as decisões são impostas”, disse.

As condições de trabalho são classificadas por ela como “péssimas e maquiadas para a população”.

“Cerca de 80% da rede pública permanece sucateada, principalmente as unidades mistas de saúde nos municípios. Nos grandes hospitais, as reformas são apenas a continuidade de obras deixadas por gestões anteriores, sem hospital novo. E pior: reformas são feitas com os pacientes internados, como no HCAL.”

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Situação da Unidade Mista de Saúde de Calçoene durante visita do SINDSAÚDE.

Salários defasados e ameaças

Outro ponto grave é a questão salarial.

“Nossa categoria recebe o salário mais baixo do funcionalismo. Na época da incorporação da GAS (Gratificação de Assistência em Saúde), o governo reteve mais de R$ 30 milhões. Hoje devolveu apenas R$ 24 milhões na política de realinhamento salarial – foi um golpe nos trabalhadores. A insalubridade está congelada por falta de laudo técnico e muitos sequer recebem”, denuncia.

Deolinda lembra que, enquanto outras categorias tiveram reestruturação de carreira e criação de novas gratificações, a saúde foi deixada de fora.

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Situação da Unidade Mista de Saúde no Município de Serra do Navio. Imagem: Arquivo do SINDSAÚDE

Terceirização e expulsão de servidores

Para a sindicalista, o maior projeto do atual governo é terceirizar a saúde.

“O que percebemos é que o governo quer extinguir servidores efetivos para colocar empresas privadas. Isso enfraquece os movimentos de luta e transforma a saúde num curral eleitoral. A terceirização é vendida como solução, mas não resolve.”

Ela relata que 50% dos profissionais das terceirizadas vêm de fora do estado, muitos recém-formados, e que servidores com 20, 30 anos de carreira foram removidos de forma abrupta de setores essenciais para dar lugar às empresas.

“Muitos foram deslocados para portarias ou setores administrativos, outros até para outros municípios, perdendo o vínculo com seu local de trabalho.”

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Para Deolinda, a atual gestão tem como prioridade privatizar a saúde e tornar um curral eleitoral. Até exames são terceitizados.

FUNDESA e contratos questionáveis

A vice-presidente afirma que a FUNDESA, criada para auxiliar a gestão da saúde, não trouxe soluções reais:

“O que vemos são inúmeros contratos de empresas,  dinheiro de emendas parlamentares jorrando e a sensação de que há uma forte ligação dessas empresas com grupos políticos.”

Assédio moral e perdas salariais

Deolinda também denuncia casos de assédio moral, citando como exemplo os AOSD (Auxiliares Operacionais de Serviços Diversos):

“Eles estão sendo ameaçados de expulsão da assistência e enviados para setores administrativos, o que significa perda salarial de até R$ 3 mil. Muitos são idosos, com mais de 30 anos de serviço, e estão sendo desrespeitados no fim de suas carreiras.”

Ela defende que a terceirização deveria complementar o serviço público, e não substituir o servidor efetivo.

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Em Serra do Navio, a porta de madeira. Seu uso é proibido em prédios hospitalares  devido a dificuldade de higienização rigorosa e aumento do risco de infeções cruzadas e contaminação,

Estrutura precária e sobrecarga

Deolinda lembra que o estado conta com apenas quatro hospitais de alta complexidade: HCAL, Hospital de Emergência, Maternidade Mãe Luzia e Hospital da Criança e do Adolescente.

“As demais unidades são de média e baixa complexidade e estão largadas. Na Maternidade Mãe Luzia, inauguraram uma ala de 40 leitos, mas fecharam três enfermarias. Falta autoclave e o material cirúrgico precisa ser levado ao HCAL para esterilização.”

Ela relata ainda denúncias de usuários:

“Uma grávida de 40 semanas foi à maternidade da Zona Norte, mas lá não havia UTI neonatal. Foi transferida de ambulância para a Mãe Luzia. Isso acontece o tempo todo porque a terceirizada BEM NASCER não oferece serviços de média e alta complexidade. No fim, tudo sobrecarrega os hospitais públicos antigos e desgastados.”

Segundo Deolinda, o contrato da BEM NASCER custa mais de R$ 4 milhões por mês, mas a maioria dos casos é encaminhada para a Maternidade Mãe Luzia.

“Temos apenas cinco bandejas de parto e nove bandejas de cesáreas para atender todo o estado.”

Propaganda x Realidade

Ela critica também as campanhas do governo:

“Na recepção dos Capuchinhos passa um vídeo do programa ‘Zera Fila’, como se tudo estivesse resolvido. É propaganda enganosa.”

Deolinda lembrou da enfermeira Bárbara Kelly que morreu vítima desse programa: "ela fez uma cirurgia de médio porte no programa Zero Fila. Após a cirurgia, fez várias abordagens (outras cirurgias) e, infelizmente, não resistiu."

Comparação com a gestão municipal

Deolinda ressalta que a situação se repete na maioria das prefeituras, até por serem aliadas do governo estadual, mas elogia avanços na gestão do prefeito Dr. Furlan:

“Com a prefeitura de Macapá avançamos, criamos o auxílio-jaleco e conseguimos aumento salarial com percentuais.”

A gestão municipal da saúde na capital

Macapál ainda recebe pacientes de várias ilhas do Pará,  além dos pacientes de alta complexidade vindos do interior do Estado, o que aumenta a demanda. Por conta disso, e diante das informações relatadas pela sindicalista e do que a população vem sofrendo à décadas,  a prefeitura conseguiu avanços, inclusive na média complexidade.

Já foram reformados, ampliados ou mesmo construídos do zero, 34 equipamentos de saúde em menos de 5 anos. Todos com estrutura moderna e dentro das exigências do Ministério da Saúde e demais órgãos reguladores. Se não fosse esse avanço na estrutura e ampliação dos serviços de iniciativa da gestão municipal, a população do Estado estaria numa situação muito pior, com a insuficiente e precária oferta de serviços pelo Estado, apesar de ter muitos recursos para isso. 

O Dr. Furlan está construindo um hospital municipal com recursos de emendas parlamentares – 60% da obra já está pronta, e o local também funcionará como maternidade. Ele tem feito uma gestão que se esperava do governo estadual. Mesmo com poucos recursos, emendas parlamentares de alguns aliados, têm sido bem administradas e ele tem conseguido entregar muito, melhorando a qualidade de vida da população, inclusive na assistência à saúde.

Mas esses avanços têm sofrido retaliações políticas. O governo estadual tem tentado desgastar a imagem do prefeito, mesmo com seus 87% de aprovação popular.

Hoje, o ministro do STF Flávio Dino bloqueou as emendas destinadas à prefeitura sob suspeita de superfaturamento.

Nas redes sociais, o povo que sente na pele a melhora da sáude municipal questiona: "como pode haver superfaturamento se as obras são entregues no prazo e com qualidade, enquanto as do governo estadual estão paradas, mesmo com muitos recursos?”

A percepção popular é que o governo estadual não entrega resultados e ainda tenta impedir o prefeito de avançar, por questões eleitoreiras.

Não é admissível que um estado tenha apenas cinco bandejas de partos e nove de cesáreas e nem sequer ofereça água potável aos seus servidores. Essa é a realidade que a população sente na pele há décadas. Há uma sede legítima de mudança – e é na área da saúde que isso é mais urgente. Enquanto o Estado continua em crise por falta de vontade política em melhorar a saúde, o prefeito mostra que é possível fazer muito mais, mesmo com poucos recursos. 

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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