
Convocados em abril se sentem usados, pois até agora não tomaram posse. A promessa era início do segundo semestre.
Cuidadores aprovados no concurso da Secretaria de Estado da Educação (SEED/AP) denunciaram, nesta sexta-feira, o descaso do Governo do Amapá e cobraram a posse imediata dos profissionais convocados desde abril.
Segundo os aprovados, o governo usou a convocação para fins políticos e de propaganda no mês de conscientização do autismo, mas nunca efetivou a nomeação prometida.
Convocação simbólica e promessas não cumpridas
Em abril, o governador Clécio Luís anunciou a convocação de 91 cuidadores, gesto que gerou grande expectativa entre os concursados.
Muitos deixaram seus empregos acreditando que tomariam posse no início do segundo semestre — promessa feita pelo próprio governador.
Seis meses depois, continuam à espera, sem renda e sem resposta concreta.
“Fomos usados como vitrine no mês do autismo. O governo quis parecer inclusivo, mas não teve compromisso com a nossa realidade”, afirma um dos convocados, que prefere não se identificar.
Frustração e prejuízos financeiros
De acordo com o grupo, a situação é grave: famílias inteiras ficaram sem sustento, e muitos profissionais enfrentam dificuldades financeiras após abandonarem seus empregos anteriores.
A espera indefinida transformou o sonho da estabilidade em frustração e revolta.
Uma das pessoas convocadas em abril relatou que esteve na Secretaria de Administração (SEAD) juntamente com grupo representativo, no dia 13 de outubro, buscando diálogo com a secretária Cynthia, mas não foram recebidos pessoalmente. Segundo ela, a secretária respondeu por telefone, informando que não há condições orçamentárias para realizar dois cursos de formação — um para cuidadores e outro para professores e pedagogos — e que a posse ocorreria apenas após um evento unificado, previsto para dezembro, sem data definida.
“Ela disse que o governador faz o papel político dele, mas a parte técnica depende da SEED e da SEAD. Alegou que a convocação de abril foi apenas simbólica, em alusão ao autismo, e não significava posse imediata”, relatou a pessoa que fazia parte do grupo e prefere não se identificar.

O requerimento foi enviado dia 10 de outubro, ainda sem resposta oficial.
Nota dos cuidadores à imprensa
Em nota pública enviada à imprensa nesta sexta (17), os cuidadores afirmam que o governo age com falta de compromisso e transparência, prolongando uma espera cruel e desrespeitosa.
“Cuidadores aprovados no concurso público da SEED/AP, referente ao edital de 2022, continuam sem tomar posse, mesmo após a convocação oficial ocorrida em abril deste ano. Seis meses de espera que expõem a falta de compromisso do Governo do Estado do Amapá, que até o momento não apresentou nenhuma previsão concreta para a nomeação desses profissionais”, diz o documento.

Cuidadores reforçaram o pedido de resposta nesta sexta-feira, 17, e fizeram nota à imprensa relatando a situação.
A nota destaca que o processo individual dos cuidadores já foi concluído, mas o governo vinculou a posse à convocação geral dos demais cargos, cuja documentação foi entregue apenas em 10 de outubro — o que pode atrasar o processo por vários meses.
“A alegação de que é preciso esperar os demais convocados é insuficiente. Trata-se de uma protelação deliberada”, afirmam.
“Não é apenas sobre orçamento. É sobre respeito com quem estudou, se preparou e acreditou nas promessas públicas. O governo preferiu priorizar sua imagem política em detrimento de vidas reais.”

Conteúdo do requerimento enviado ao GEA dia 10 de outubro cobrando a nomeação e posse o mais breve.
Marketing de governo versus realidade da educação
Enquanto os cuidadores seguem desamparados, o Governo do Amapá e o governador Clécio Luís utilizaram suas redes sociais nesta semana para divulgar um prêmio nacional recebido na área de alfabetização — resultado que, segundo especialistas, está diretamente ligado ao trabalho dos municípios, e não ao poder público estadual.
A contradição revoltou ainda mais os convocados, que lembram que o atendimento a alunos com deficiência e necessidades especiais depende urgentemente da atuação desses profissionais que continuam à espera da posse.
“De prêmios e marketing, a população está cheia. A gestão prefere maquiar a realidade, enquanto quem foi convocado vive sem renda, sem perspectiva e sem confiança nas promessas do atual governo”, concluem os cuidadores.
Resumo do caso
- 91 cuidadores foram convocados em abril pelo governador Clécio Luís.
- A promessa era de posse ainda no segundo semestre de 2025.
- Nenhum foi nomeado até agora.
- Muitos deixaram empregos e estão sem renda há meses.
- O governo alega questões orçamentárias e planejamento conjunto da SEED e SEAD.
- Cuidadores denunciam uso político da convocação e cobram respeito e urgência.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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