Quando a perda de um visto choca mais do que ausência de uma mãe inocente condenada a 17 anos de prisão.
O QUE LHE CAUSA REVOLTA? A PERDA DO VISTO DA FILHA DE PADILHA OU OS FILHOS DA DÉBORA PERDEREM SUA MÃE POR 17 ANOS?
Dependendo da sua resposta a essa pergunta, você demonstrará se ainda existe algum resquício de humanidade em você ou se já se transformou naquilo que acusa os outros de ser.
Nesta semana, com a sanção de perda de visto dos EUA para o atual ministro da Saúde, Padilha, sua esposa e sua filha de 10 anos, a grande imprensa brasileira se revoltou, se comoveu e mostrou, mais uma vez, sua completa falta de caráter, baixeza e covardia. Numa inversão de valores inédita na história recente do país, esse episódio é apenas uma amostra do descolamento da realidade em que vive uma parcela significativa da população.
Primeiro, a própria esquerda não deveria sequer considerar um “prejuízo” a perda de um visto para os Estados Unidos, já que se diz antiamericanista e vive destilando ódio contra a “terra do Tio Sam”. Se o desprezo fosse verdadeiro, não haveria motivo algum para indignação. Essa reação é apenas mais uma peça da coleção de hipocrisias.
A punição a Padilha decorre do programa Mais Médicos, criado no governo Dilma, quando ele era Ministro da Saúde. Todos sabemos que, além de colocar em risco a vida de brasileiros atendidos por profissionais cuja formação sequer era comprovada, havia o risco de infiltração de agentes cubanos. Na melhor das hipóteses, esses médicos eram trabalhadores escravizados, já que a maior parte do salário que lhes era de direito era confiscada pelo governo cubano, que repassava apenas entre 25% e 50%. Ou seja: o convênio, já denunciado como trabalho escravo e usado para sustentar o regime comunista, foi a razão da sanção norte-americana. O passado agora bate à porta, e este pode ser apenas o começo.
Com a vitória de Bolsonaro em 2018, Cuba encerrou a parceria porque ele determinou que o pagamento seria integral e direto aos médicos. Isso escancarou a verdadeira intenção do programa: não era saúde, era financiamento ao regime cubano.
A revolta de Padilha diante da “punição” à sua filha de 10 anos, reforçada pelo coro da grande mídia, mostra a existência de um Brasil paralelo e imaginário, que se indigna com irrelevâncias e fecha os olhos para tragédias humanas reais.
Ninguém na imprensa considerou absurdo quando Débora, a mulher do “perdeu, mané” escrito em batom numa estátua, foi condenada a 17 anos de prisão, deixando duas crianças em casa. Ninguém refletiu sobre o impacto devastador para essas crianças. Mas todos ficaram horrorizados com o fato da filha de Padilha não poder mais ir à Disney. Isso não é apenas falta de senso de proporção: é um descalabro moral sem precedentes.
Por causa da farsa do chamado “golpe do 8 de janeiro”, centenas de crianças foram privadas da presença de pais, mães, avós e tios. Não foi um simples visto negado. Foi o direito de conviver com a própria família que lhes foi arrancado.
A mesma imprensa não achou absurdo quando Moraes mandou bloquear as contas da esposa de Daniel Silveira ou da esposa de Eduardo Bolsonaro. Mas agora faz escândalo por algo sem gravidade, tentando até imputar culpa a Bolsonaro.
Há algo de profundamente errado, não apenas na grande imprensa, mas também em parte da população brasileira, que perdeu completamente o discernimento: inflama-se por insignificâncias e ignora injustiças brutais. As crianças privadas da convivência familiar por decisões judiciais arbitrárias são vítimas de uma justiça sustentada pelo pagador de impostos, que banca vinhos caros e caviar para seus juízes. Isso torna a crueldade ainda maior.
Com requintes de perversidade, centenas de brasileiros estão sendo punidos, enquanto a imprensa do sistema, ou ignora os fatos, ou os vende como se fossem a aplicação legítima da lei. É a barbárie sendo executada sob a roupagem da virtude.
Não sei em qual parcela da população você se encontra. Mas se você também está horrorizado com a perda do visto de uma família e nunca se importou com a perda da liberdade de pais, mães e avós — arrancados do convívio com seus filhos e netos —, saiba que você perdeu a essência do que significa ser humano. Tornou-se um ser irracional, cujo “pai” é Paulo Freire e cuja “mãe” é a Rede Globo.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
Colabore e anuncie onde você encontra conteúdo de valor