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 cid tagliaferro

A delação do Cid, sob tortura, ganhou manchetes. Enquanto a delação do Tagliaferro, sobre o torturador, segue ignorada.

À medida que se aproxima o último ato desse espetáculo macabro chamado de julgamento de Bolsonaro, surge uma situação, no mínimo, curiosa: enquanto a delação de Cid foi alçada às manchetes, explorada por jornais, sites e horas de noticiário de TV, a de Eduardo Tagliaferro — feita de forma voluntária, nas redes sociais, com vasto material probatório sobre os crimes atribuídos ao seu ex-chefe Alexandre de Moraes — segue praticamente invisível para a grande imprensa.

Segundo o próprio Tagliaferro, a CNN se recusou a divulgar seu material, mesmo diante do potencial explosivo de repercussão. A única a abraçar a missão foi a Revista Oeste, cumprindo um papel que deveria ser obrigação de todos os veículos jornalísticos sérios. Mas fazer jornalismo de verdade, ao que parece, é privilégio de poucos.

O contraste é gritante: a superexploração de uma delação frágil e contraditória, feita sob suspeita de tortura, contra o silêncio ensurdecedor diante de provas documentadas que comprometem uma das figuras mais poderosas do país. Esse quadro nos obriga a constatar que a imprensa não apenas informa, mas tem o poder de fabricar realidades e enterrar outras.

E quando isso é feito para derrubar um governo, extinguir um lado político e sustentar uma ditadura, a parceria entre mídia e poder se torna mais letal do que qualquer aliança com forças armadas em regimes autoritários. A arma que elimina a capacidade de pensar faz com que até um sopro derrube a resistência. Por isso, um regime só se consolida quando controla a imprensa e a transforma em porta-voz de suas “verdades”. Define o que pode ou não ser dito, manipula imagens, cores e tons, e constrói um cenário artificial que destrói, com verniz de virtude, qualquer voz dissonante.

O caso de Cid foi amplamente divulgado, requentado e repetido. Bastava uma vírgula nova para virar destaque no Fantástico. Criou-se a narrativa de um golpe que nunca existiu, com “núcleos” imaginários e generais presos sob uma acusação que mais parece um roteiro de bêbado do que um plano de Estado. É risível: homens que passaram a vida inteira treinando para a guerra foram encarcerados por uma suposta tentativa de golpe que carece até de lógica.

Não sou jurista, mas mesmo para o leigo fica evidente que esse processo nasceu viciado e caminha para um desfecho igualmente fraudulento. É difícil até explicar para quem não vive no Brasil: inocentes presos, criminosos soltos, e uma democracia que se desfaz diante de nossos olhos.

O depoimento de Cid, feito sob tortura, já seria suficiente para anulação. Mas a engrenagem segue, fabricando uma realidade de “tentativa de golpe” que jamais existiu. Enquanto isso, Tagliaferro concede entrevistas ao mundo, detalhando como Moraes agiu para garantir a eleição de Lula a qualquer custo e perseguir Bolsonaro e seus apoiadores sob o pretexto de combater fake news.

“Crimes perfeitos não deixam suspeitos”, diz a canção. Então, ao que tudo indica, Moraes não alcançou a perfeição. De onde menos se esperava, veio o contra-ataque - do seu "ajudante de ordens." O problema é que as provas e depoimentos de Tagliaferro têm sido sistematicamente ignorados, enquanto a delação forçada de Cid é tratada como verdade cristalina, com poder de condenar o maior líder político que o Brasil já teve. Um presidente que estaria no cargo, se não fosse a ação da Suprema Corte contra ele e em favor de Lula.

Temos, portanto, duas delações que se encontram: uma, sem provas, condena Bolsonaro; outra, com provas, expõe Moraes — mas é silenciada. Entre ambas, revelam-se os contornos de uma realidade manipulada, com algozes, vítimas, e um povo que precisa decidir se se cala ou reage.

Não é à toa que querem restringir a liberdade de expressão nas redes sociais: é nelas que lampejos da verdade ainda conseguem escapar do bloqueio midiático. O mundo viu a delação falsa e agora enxerga a verdadeira. O mundo observa um Brasil sequestrado, e não quer se alinhar a ele enquanto estiver sob esse regime.

Resta, a cada brasileiro, a missão do resgate.

Adriana Garcia

Jornallista na Amazônia

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