Aeroporto levou 15 anos para ficar pronto, custou 166 milhões com várias investigações de corrupção, apresenta problemas estruturais e de manutenção 6 anos depois de inaugurado.
Na última sexta-feira (08), o Aeroporto Internacional de Macapá Alberto Alcolumbre recebeu a visita do Ministério Público Federal (MPF) para apurar denúncias de falhas na manutenção e no funcionamento de suas instalações. A diligência é fruto de uma notícia de fato instaurada para investigar as condições do terminal, que ficou pronto apenas em 2019 após uma obra que se arrastou por 15 anos.
O procurador da República Aloizio Brasil Biguelini, responsável pela investigação, foi recebido por representantes da Norte da Amazônia Airports (NOA), concessionária responsável pela administração do aeroporto. A vistoria teve como foco avaliar a infraestrutura, o sistema de climatização e o funcionamento dos elevadores.
Nos últimos anos, incidentes como o desabamento de partes do forro de gesso, calor excessivo no terminal e falhas nos elevadores têm sido recorrentes. Em julho, um novo episódio de desabamento ocorreu — desta vez na praça de alimentação. Segundo a administração, a corrosão das calhas teria provocado o incidente.
O MPF constatou que ações corretivas estão em andamento. A concessionária apresentou um cronograma para a manutenção definitiva da cobertura, com prazo de conclusão até setembro. Sobre os elevadores, a NOA informou que dois permanecem interditados por falta de peças, mas outros dois estão em operação.
Quanto ao sistema de climatização, que atualmente funciona com apenas 75% da capacidade, a empresa afirmou que o serviço será totalmente restabelecido em até 90 dias. A concessionária atribuiu parte dos problemas às constantes interrupções no fornecimento de energia elétrica em Macapá, que afetam diretamente os equipamentos. Para minimizar os impactos, estão previstos investimentos na recuperação do sistema de resfriamento por água (chiller) e na instalação de um sistema de proteção contra variações de energia.
O MPF seguirá acompanhando o caso por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão.
A precariedade na infraestrutura do Amapá não é novidade para investidores e empreendedores, que enfrentam desafios logísticos muito acima da média nacional. A instabilidade no fornecimento de energia elétrica, por exemplo, prejudica desde residências até estruturas estratégicas como um aeroporto internacional.
A história da construção do novo aeroporto é marcada por paralisações e suspeitas de irregularidades. A obra começou em 2004, mas foi interrompida em 2007 sob denúncias de desvios de recursos. Retomada apenas em 2014, com novo contrato com o Governo Federal, foi entregue em abril de 2019. O terminal atual tem capacidade para atender 5 milhões de passageiros por ano — 60% a mais do que o anterior — e custou R$ 166 milhões, bem acima dos R$ 116 milhões inicialmente previstos.
Diante dos problemas recentes, o senador Randolfe Rodrigues (PT) responsabilizou a NOA pela falta de manutenção e anunciou que pedirá a cassação da concessão. Ele também criticou o governo Bolsonaro pela privatização da administração do aeroporto.
Resta a pergunta: e as obras que continuam sob responsabilidade direta do poder público? Como a conclusão da BR-156, que já se arrasta há quase cem anos somando paralisações, irregularidades e desvios milionários. Nesses casos, quem deve ser responsabilizado — e quem o povo pode “casssar”?
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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