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 cop clima

Árvores de plástico, hotéis com diárias absurdas, efeito Trump no mundo. Nesse clima, não há clima para discutir o clima.

Definitivamente, o tiro saiu pela culatra. A escolha da COP 30 no coração da Amazônia não rendeu dividendos políticos ao atual governo. Pelo contrário: virou motivo de chacota. O uso de árvores artificiais, o desmatamento de áreas preservadas para construção de estrada, a completa falta de infraestrutura de Belém e os absurdos preços cobrados por hotéis — e até motéis — para hospedar os participantes, tornaram-se símbolos da contradição.

Parece que quem veio discutir o clima, está sem clima também. Até agora, apenas 47 dos 196 países confirmaram presença. Cresce o número de pedidos formais de delegações para transferir a COP 30 de Belém, diante dos altos preços e da insuficiência de hotéis e leitos. O governo brasileiro, no entanto, insiste em manter o evento na capital paraense, garantindo que haverá infraestrutura e logística adequadas.

Curioso é que o mesmo governo que não assegura infraestrutura para os moradores de Belém, promete conforto e inclusão para as delegações internacionais. Lula não arreda o pé da ideia — e quem paga a conta é o povo brasileiro.

Até agora, já foram destinados R$ 4,2 bilhões em investimentos para obras de infraestrutura, saneamento básico e turismo, além de R$ 260 milhões para a locação de navios de cruzeiro, que servirão como hotéis flutuantes. Os recursos vêm do Orçamento-Geral da União, do BNDES e de Itaipu. Mais uma vez, uma lambança bancada com dinheiro público, como se o país não tivesse necessidades urgentes e sobrasse recurso para ostentar.

A verdade é que não se trata apenas de oportunistas querendo lucrar com o megaevento cercado de palafitas e esgoto a céu aberto, enquanto posam de defensores do meio ambiente. O problema é cultural: existe uma mentalidade enraizada, do lar ao governo federal, de que só os de fora merecem o melhor padrão.

É como quando preparamos a casa para uma visita: colocamos os melhores pratos e o cardápio mais elaborado, mesmo passando o resto da semana comendo ovo. O importante é impressionar, mostrar o que não vivemos no cotidiano. Essa hipocrisia já se consolidou como cultura.

No Amapá, por exemplo, moro perto da expo-feira, onde o bairro passa o ano todo com pouca iluminação, rodovia esburacada e obras intermináveis. Agora, com a proximidade do evento, o governo corre para maquiar, tapar buracos e concluir às pressas o básico da rodovia. O essencial, porém, continua sendo negligenciado: iluminação pública de qualidade e vias trafegáveis para os moradores durante todo o ano.

Assim como a Copa do Mundo no Brasil, a COP 30 é mais um retrato de um país que gasta bilhões prometendo “legado” e entrega nada. Ficam as cenas, o espetáculo para impressionar investidores, mas os serviços que deveriam beneficiar permanentemente a população local são ignorados. O resultado é sempre o mesmo: um país de mentira, encenado para estrangeiros, mas cujos benefícios, infraestrutura e conforto são desconhecidos pelo próprio povo.

A COP 30, pelo andar da carruagem, acontecerá aos trancos e barrancos. Deve colecionar memes, vexames internacionais e, no fim, escancarar a política ambientalista brasileira como o que realmente é: pura hipocrisia. O criador (todas as COPs) encontra-se com a criatura (a Amazônia sofrida, proibida de prosperar e incapaz de hospedar o próprio evento).

Para coroar a ironia, a organização chegou a proibir alimentos típicos do Pará, como o açaí e a maniçoba, alegando risco de contaminação. Que mensagem isso passa? Como enxergam o Pará e o Brasil? Mais uma vez, o país se ajoelha diante de uma agenda que não é sua, colecionando constrangimentos dia após dia.

Mas o que realmente “acabou com o clima” foi a torneira de dólares fechada por Donald Trump. Essa agenda globalista sempre viveu do financiamento externo. Com os EUA fora do jogo e a Europa atolada em seus próprios problemas — além das guerras e do cerco americano ao narcotráfico que sustenta a esquerda — o espetáculo climático perdeu relevância. O efeito Trump repercutiu até na conferência do clima.

A verdade é que não falta apenas infraestrutura para a COP em Belém: falta clima para continuar priorizando o “clima” como negócio bilionário. Essa narrativa de que a Amazônia deve salvar o planeta já não convence. O espetáculo está em seus últimos capítulos, e a realidade começa a prevalecer.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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