
A nação Brasil só dará certo se o Estado parar de validar o crime organizado e deixar de fazer parte dele!
A operação policial que aconteceu no Rio de Janeiro acabou separando o joio do trigo. Quem defende o crime não conseguiu mais disfarçar, e quem o combate teve a dimensão real da estrutura montada no Brasil que sustenta as facções criminosas. Estas já dominam 25% da população brasileira e continuam tendo, não apenas a tolerância do Estado brasileiro, mas sua tutela. Quando, depois de uma ação policial, é a polícia que tem que prestar esclarecimentos — em vez de ser reconhecida, respeitada e respaldada pelo Estado — não há mais dúvidas de que o crime tem representantes em todas as instâncias governamentais.
A resistência em reconhecer o PCC e o CV como organizações terroristas mostra que o governo federal é seu principal aliado. Lamentavelmente, na época das eleições de 2022, Bolsonaro não podia falar a verdade sobre as ligações de Lula com o PCC. Agora, elas estão escancaradas, e parece que a sociedade insiste em achar que estamos vivendo uma normalidade democrática, recusando-se a enxergar o óbvio: já somos um narcoestado.
Temos um presidente que disse que o traficante é vítima do usuário. O Poder Executivo, hoje sustentado por um ministro da Suprema Corte sancionado pela Magnitsky, já mostrou há muito tempo de que lado está — e não é do lado das vítimas. Afinal, nunca é demais lembrar que sua “vitória” foi celebrada nos presídios.
Mas há algo ainda mais grave. O mercado também defende o narcotráfico, pois o PCC e o CV são seus maiores clientes. Eu sempre digo que uma pessoa comum, trabalhadora no Brasil, não consegue pagar um advogado para se defender. Só quem tem dinheiro de sobra é criminoso. Não se espantem se surgirem sindicatos e até a "Ordem dos Traficantes do Brasil". Eles são muitos e só se multiplicaram porque têm o aval do Judiciário. Muitos parentes de ministros são os advogados que os defendem nos tribunais. Nada no Brasil dá mais lucro do que o crime organizado. Portanto, para o mercado, o crime literalmente compensa — e muito. Eliminá-lo seria um prejuízo irreparável.
Quando vi que o mercado brasileiro não quer que o PCC e o CV sejam considerados organizações terroristas — alegando que isso pode afugentar investidores, atrapalhar negócios ou trazer sanções econômicas — eu não acreditei. Estamos vivendo momentos em que é preciso ler e assistir às notícias várias vezes até a ficha cair e entendermos que não há mais qualquer pudor em validar o crime. E as desculpas são inacreditáveis.
Quer dizer que empresas podem vir se instalar num país onde 50 milhões de habitantes são reféns do crime, mas reconhecer o crime organizado como terrorismo — e assim receber suporte internacional para combatê-lo — poderia diminuir o interesse por investimentos? Quando foi que a legalização do crime se tornou uma virtude e um fator de atração econômica? Alguém me diga qual capítulo eu não assisti dessa história macabra.
A verdade é que o crime lava dinheiro, sustenta organizações e partidos, patrocina campanhas eleitorais e enche de fortuna os cofres de advogados criminalistas parentes ou amigos íntimos de juízes e ministros. O crime é o que há de mais rentável num país onde o mercado, a política, a imprensa e a justiça se alimentam de seus lucros. Não importam quantas vidas são destruídas, quantas crianças são mortas, quanta opressão se vive ao chegar ou sair de casa; não importa quem, já na miséria, tem que pagar uma taxa a mais no botijão de gás para continuar vivo; não importam os crimes transversais provocados pelo vício — abusos, assassinatos, acidentes de trânsito, tragédias familiares. O que importa é que o lucro do mercado está intacto e que as verbas para as próximas campanhas eleitorais estão garantidas. E, quando der ruim, os advogados bem pagos continuarão nadando no dinheiro do crime organizado.
O mercado que vê no crime uma fonte de lucro e um atrativo para investimentos — mas não faz qualquer esforço para defender outros setores igualmente lucrativos, como o agro, a mineração e a industrialização — é o mesmo que está colocando uma pá de cal no país e enterrando de vez qualquer chance de o Brasil dar certo.
Num país onde quem produz comida, quem quer empreender, explorar nossas riquezas, gerar emprego e renda e fortalecer a indústria é visto como criminoso, e onde criminoso, narcotraficante, assassino e assaltante são tratados como parceiros de negócios, a solução é o aeroporto. Salve-se quem puder — e quem sair por último, apague a luz.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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