Um governo não implanta uma ditadura sem antes pagar a imprensa para mentir e manipular a opinião pública
Quando escolhi o jornalismo, foi simplesmente porque gostava de escrever e desejava ajudar pessoas com minhas palavras. Mas, ao longo da formação e nestes 24 anos de profissão, compreendi que a comunicação pode tanto retratar a realidade quanto construir uma realidade paralela — capaz de destruir vidas e até nações.
Costuma-se dizer que apenas com forças armadas se impõe uma ditadura. Eu penso diferente: só com a imprensa se impõe uma ditadura, pois ela aprisiona a mente e paralisa qualquer reação.
O Brasil vive hoje esse momento perigoso e inédito. Ditadores compraram aqueles que detêm o poder de construir, revelar ou ocultar realidades através das palavras. O chamado “grande jornalismo” escolheu um lado — e não foi o lado da verdade nem o das pessoas. Em toda guerra, a primeira vítima é a verdade, e o caos que se segue nasce justamente disso.
O mais assustador é ver os órgãos de classe se posicionando ao lado do falso jornalismo, defendendo quem distorce os fatos enquanto sacrificam e desprezam os que ousam praticar a verdadeira reportagem. Hoje, dizer a verdade tornou-se crime, e não há proteção aos que resistem.
Ontem, em Macapá, tivemos um episódio revelador. Um homem que se apresenta como jornalista foi ao encontro de uma autoridade política, alvo constante de suas ofensas, fake news e ataques nas redes sociais. Mesmo sabendo da hostilidade, essa autoridade perguntou, antes de responder, se a abordagem era séria ou apenas provocação. Na sequência, acompanhantes do suposto jornalista agrediram servidoras que estavam próximas. Ao reagir, a autoridade — sem qualquer histórico de violência e com amplo apoio popular — acabou transformada em alvo de narrativas que o acusam de agredir jornalistas no exercício da profissão.
Rapidamente, a imprensa local e nacional fabricou uma versão conveniente: um caso clássico de assassinato de reputação contra um adversário político. Não é coincidência que essa autoridade esteja em vantagem para se tornar governador do Estado, abalando estruturas antigas que se sustentam há décadas. A quase totalidade da imprensa, alinhada ao atual governador, tenta sufocar o crescimento de seu principal opositor, mesmo sem sequer anunciar pré-candidatura. Um prefeito que trabalha de domingo a domingo e é avaliado como o melhor do Brasil.
Chegamos a um ponto em que ter apoio popular é tratado como ameaça à “democracia”. A regra passou a ser governar pelo medo, enquanto lideranças dispostas a servir ao povo são perseguidas judicialmente, sufocadas financeiramente e têm sua reputação destruída por um jornalismo vil, em proporções nunca vistas. O que antes era exceção virou regra: até jornalistas que insistem em informar são atacados.
Essa inversão de valores já afeta grande parte da população e avança rapidamente sobre o cidadão comum, que hoje teme até manifestar sua opinião. Sair de casa para provocar um adversário político sob a desculpa de estar “fazendo jornalismo” é como um médico sair para matar um paciente opositor político alegando que apenas o está operando e tentando salvá-lo.
Jornalismo sério se faz com responsabilidade: buscando fontes oficiais, solicitando entrevistas, formulando perguntas respeitosas. O respeito recebido é proporcional ao respeito oferecido. Os mesmos que agora bradam sobre “violações ao direito de informação” são os que aplaudem quando um ex-presidente, sem condenação, é impedido de dar entrevistas, tirando o direito de informar ao jornalista que deseja entrevistá-lo.
A sede de poder a qualquer custo expõe incoerências grotescas de jornalistas, advogados e juízes. A distorção da lei e a ausência de referências sólidas nos conduzem à barbárie. O povo só deseja escolher, de fato, seus representantes — aqueles que legislarão e governarão em favor da maioria. Mas não há democracia possível quando reportagens envenenadas, facadas, tiros, condenações e prisões ilegais impedem que os escolhidos pelo povo sejam eleitos.
Há muito tempo venho afirmando: o jornalismo, como aprendemos nos bancos da universidade, já morreu. Diante dos últimos acontecimentos no Brasil e no Amapá, concluo que ele foi reconfigurado e transformado numa arma letal contra quem ousa prosperar sem submeter-se ao sistema. Hoje, o jornalismo tornou-se um monstro criado e protegido justamente para destruir a honra de quem vence fora do controle das elites.
Escolhi esta profissão para ajudar pessoas. Mas hoje assisto a um jornalismo que, em vez de servir, destrói pessoas e ameaça destruir uma nação inteira. Ainda assim, como em todas as áreas, há um remanescente fiel aos princípios e valores originais. Coragem a todos nós que, em maior ou menor grau, resistimos às agressões dos nossos próprios pares que já abandonaram o pudor e a honra.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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