
No dia 15 de outubro, às 19h, luzes se acendem ao redor do mundo para acolher as mães e se solidarizar com essa dor silenciosa, mas real.
Iniciativa global sensibiliza para a perda gestacional, neonatal e infantil
Na noite desta quarta-feira, 15 de outubro, em frente à sede da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Amapá (OAB/AP), a Comissão da Mulher Advogada promoveu a primeira edição do movimento mundial “Acender das Luzes”, também conhecido como “Onda de Luz” (Global Wave of Light).
O evento, liderado pela presidente da Comissão, Dra. Rosiane Barbosa, que vivenciou pessoalmente uma perda gestacional, marcou um momento de união, fé e acolhimento.
“É o momento das mulheres entenderem que não estão sozinhas e da sociedade abraçá-las”, destacou a advogada.
Um movimento global de amor e memória
O movimento Onda de Luz foi criado nos Estados Unidos por Robyn Bear, Lisa Brown e Tammy Novak, e faz parte da campanha internacional de conscientização sobre a perda gestacional, neonatal e infantil.
A iniciativa se espalhou pelo mundo após o Congresso norte-americano reconhecer outubro como o Mês da Conscientização da Perda Gestacional e Infantil, em 1988.
Desde então, no dia 15 de outubro, famílias e amigos em diversos países acendem velas às 19h (horário local), criando uma “onda contínua de luz” que percorre o planeta em 24 horas — símbolo de amor, memória e esperança.
Em Macapá, às sete da noite, cada participante acendeu uma vela ou a lanterna do celular, compondo uma cena emocionante de solidariedade e fé.
Fé e acolhimento no mesmo propósito
Durante o encontro, foi realizado um culto ecumênico, com representantes da Igreja Católica e da Igreja Messiânica Mundial.
O Padre Paulo leu um trecho do Evangelho de Lucas, quando o anjo anuncia a Maria que será mãe de Jesus, e fez uma reflexão profunda sobre o luto das mulheres:
“Eu não entendia como uma mulher chorava quando perdia um filho com duas semanas de gestação. Ela nem conheceu, não pegou. Hoje eu entendo: era o sonho da mulher. Ela esperou por esse momento a vida inteira. A ausência da sociedade e de instituições nesse tipo de acolhimento dói mais até do que a própria perda”, disse o sacerdote.
Ele acrescentou que, para a Igreja, “A vida começa no ato da fecundação — e eu diria que começa antes, pois Deus já nos planejou e nos chamou pelo nome.”
A Ministra da Igreja Messiânica, Dra. Maria Nilza, também participou da cerimônia, levando uma mensagem de conexão espiritual:
“Acreditamos que estamos interligados aos nossos antepassados por elos eternos. Esse é o momento de levarmos luz a essas crianças, pois os filhos nós vamos amar sempre.”
Da dor ao acolhimento: uma causa transformada em lei
A idealizadora da ação no Amapá, Dra. Rosiane Barbosa, explicou que o projeto local nasceu da inspiração mundial da Onda de Luz.
“O principal objetivo é acolher as mulheres e famílias que viveram perdas gestacionais, neonatais e infantis. Às 19h, o acender das luzes acontece simultaneamente no mundo todo, e esta é a primeira edição no Amapá”, explicou.
Rosiane destacou o apoio do presidente da OAB/AP, Dr. Israel da Graça, e do prefeito de Macapá, Dr. Antonio Furlan, que encaminhou à Câmara Municipal o Projeto de Lei nº 24/2025, instituindo no calendário do município o Dia Municipal de Humanização e Apoio às Famílias que Sofreram Perdas Gestacionais e Infantis.
“É um movimento de fraternidade e humanização. Queremos que cada mulher entenda que não está só”, completou.

Dra Rosiane Barbosa, ao lado de Flávia Maya e Socorro Marques representando a Secretária Municipal de Mobilização e Participação Popular
Depoimentos que emocionam
Entre as participantes estava a advogada Rozely Malcher, que perdeu o bebê aos dois meses de gestação — ele teria 15 anos hoje.
Com voz embargada, ela relembrou o momento:
“Eu lembro como se fosse hoje. A médica me disse: ‘infelizmente, não tenho uma boa notícia pra dar’. É uma dor muito profunda, porque é gerado dentro de nós. A gente sente a vida e a morte ao mesmo tempo. Digo às mulheres que passaram por isso que reconhecer essa dor também é libertador. Esses bebês devem ser lembrados, porque um dia estiveram aqui.”
Rozely ressaltou a importância da nova lei, que reconhece oficialmente esse luto silencioso: “Eles poderiam estar aqui conosco, mas serão eternamente lembrados.”
Compromisso social da OAB/AP
A presidente em exercício da OAB/AP, Dra. Diandra Moreira, reafirmou o papel da instituição na promoção de pautas sociais:
“Estamos desde o início do ano trazendo temas relevantes à sociedade, e o Acender das Luzes é um deles. Essa parceria com a Comissão da Mulher Advogada e com a Prefeitura de Macapá é muito significativa. Foi a primeira edição, mas queremos que aconteça todos os anos.”
Diandra reforçou a importância de transformar a dor em união e prevenção:
“É um dia de oração, reflexão e trabalho em prol da empatia e da vida.”

A OAB/AP mais uma vez sendo espaço para discussões de temas sociais relevantes e necessários.
Um gesto simples, um significado eterno
O acender de uma vela, por um instante, pode parecer pequeno — mas, para quem carrega a dor da perda, representa luz, amor e esperança.
Macapá agora faz parte dessa corrente mundial de lembrança e solidariedade que, a cada 15 de outubro, ilumina o mundo inteiro.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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