
Ministro indicado pelo partido de Alcolumbre cassa rádio de grande audiência em Macapá.
Censura e perseguição política ganham novo capítulo no estado
A situação de perseguição política e censura no Amapá está se tornando cada dia mais grave. Por articulações políticas e de forma considerada esdrúxula e inconstitucional, quatro deputados federais foram calados e substituídos por aliados do poder.
Agora, o mesmo método parece estar sendo usado contra comunicadores que criticam o governo estadual — utilizando o poder judiciário como instrumento para intimidar e silenciar vozes independentes.
Já são dezenas de processos movidos por políticos que, em vez de servirem ao povo e respeitarem as críticas de seus mandatos, tentam transformar em criminosos aqueles que os questionam.
Rádio independente é o novo alvo
Com as mesmas articulações que afastaram os parlamentares, o alvo da vez é uma rádio que não é aliada de Davi Alcolumbre.
Com programas de grande audiência e forte participação popular, a emissora já vinha sendo ameaçada de ter sua concessão cassada — o que se confirmou nesta terça-feira, 11.
A decisão foi publicada no Diário Oficial da União e assinada pelo ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, indicado pelo partido União Brasil, legenda de Alcolumbre.
“Definitivamente, os ministérios do governo federal liderados pelo Lula não servem mais à população, e sim como instrumentos de perseguição, de neutralização de opositores e de proteção a aliados”, afirmam comunicadores locais.
A revogação da concessão já está em vigor. Recursos estão sendo apresentados para tentar manter a rádio no ar, mas, conforme a decisão, a emissora pode perder o sinal a qualquer momento — e de forma definitiva.
Comunicadora denuncia gravidade e alerta para precedente nacional
A jornalista e apresentadora Juh Furtado, uma das vozes do programa Forte Notícias, líder de audiência no estado, usou suas redes sociais para comunicar a decisão e alertar o público sobre o risco à liberdade de imprensa.
“Apesar de ser algo que, até certo ponto, a gente não acredita que possa acontecer, acabamos de ter acesso à informação de que a concessão da rádio foi cassada pelo Ministério das Comunicações. Uma coisa que acreditávamos não ser possível dentro do sistema democrático brasileiro, onde é possível questionar e cobrar políticos e gestores públicos. Mas parece que não é bem assim.”
Furtado ressaltou que o caso não é apenas local, mas um precedente perigoso em nível nacional:
“O que está acontecendo no Amapá abre um precedente muito perigoso a nível de Brasil. A cassação de um meio de comunicação é algo muito grave. A gente não sabe se daqui a meia hora o sinal da Forte ainda vai estar no ar.”

Juh Furtado apresenta o programa de todas as manhãs Forte Notícias com ampla participação popular.
“Tristeza e indignação num governo que prometia democracia”
A comunicadora também demonstrou frustração com o atual governo federal:
“Foi revogada a renovação da nossa rádio. Ela foi cassada, colocada para não existir mais. Recebo essa portaria com muita tristeza, porém sem surpresa, porque sabemos a força que estamos enfrentando para nos manter no ar e também contra quais forças estamos lutando.
Eu achava que o governo Bolsonaro poderia calar quem ele não gostava, e fico muito triste, de verdade, de ser silenciada num governo de Lula. Aqui é sobre estilo de governo mesmo, porque esse Diário Oficial está sendo assinado por um ministro durante o governo Lula.”
“Se podem calar uma rádio, imagina um cidadão comum”
Juh alertou para o que considera um ataque direto à liberdade de expressão:
“Estão executando uma rádio, e eu não preciso falar mais nada para vocês. Acho que a população amapaense e o povo brasileiro têm inteligência suficiente para entender o que está acontecendo aqui.
Eles estão cancelando a portaria que dava a outorga para a gente continuar — então, a retirada é definitiva. Se um sistema de comunicação pode ser calado, imagine um cidadão sozinho, com sua própria opinião, sendo esmagado dentro da própria casa.”
“Orgulho de não se curvar”
Em tom emocionado, a apresentadora encerrou com uma mensagem de resistência:
“Estou com muito orgulho da Rádio Forte, porque não se curvou para nenhum poderoso. Tenho muito orgulho de todo o time da Forte, especialmente do meu parceiro Eduardo Neves, porque só a gente sabe o que vem enfrentando nesses últimos anos — especialmente nos dois últimos.
Se eu pudesse voltar no tempo, teria tomado as mesmas atitudes. Eu não me curvo. Não há ninguém no mundo que vá me fazer trair meus princípios.
Confio que o povo amapaense entenda que isso não é só sobre a Forte. Esse silenciamento, essa vontade de mandar e essa agressão à liberdade não são apenas sobre a rádio — são sobre calar você, ouvinte, que colocava sua voz e opinião no ar.”
E concluiu:
“Uma rádio que ousou dar voz ao povo é uma afronta, principalmente quando não se curva. É isso que temos hoje: a cassação de uma rádio porque ela não se permitiu ficar à mercê de meia dúzia de pessoas que, de fato, não demonstram se importar com o Amapá.”
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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