Quando um povo é proibido de pensar e questionar, ele fica desprotegido, como uma cidade sem muros
Eu nem ia escrever artigo hoje. Mas o dedo coçou diante do que li num artigo escrito por um professor historiador da UFRJ, num site aí. Meu foco é rebater o que ele falou e não expor a sua pessoa. Portanto, lá vai.
Primeiro, ele declarou ser eleitor do Lula e vê com preocupação, e certa decepção, a pressão que o presidente tem feito perante o IBAMA quanto à liberação da pesquisa e posterior exploração do petróleo na Margem Equatorial.
Em nenhum momento, ele demonstrou preocupação com a situação de milhões de brasileiros que vivem nessas regiões e que precisam de uma resposta imediata para sua situação econômica e social. Ele preocupou-se com a imagem do Brasil e seu papel na liderança no Regime Internacional do Clima. Isso é assustador, mas acontece com muita frequência. Uma multidão preocupada com a imagem perante organismos internacionais, e indiferente às necessidades do próprio povo.
Ele também não deve estar informado que corais na Amazônia não existem e insistiu nessa narrativa. Aliás, o que estamos vendo é a verdade nadando na contra-mão de uma enxurrada de narrativas. Insistir em falar a verdade é um dos exercícios mais perigosos e desgastantes para o cidadão brasileiro, neste dias. Já as narrativas descem a ladeira com força e sem esforço nenhum e uma multidão engole como verdade absoluta. Essa multidão está disposta a tudo para silenciar o livre pensamento e impor apenas a liberdade de concordarmos com ela.
Foi o que aconteceu comigo quando resolvi comentar em um post de alguém no instagram que nada sabe sobre a Amazônia e que, numa postagem completamente apelativa e cheia de fake news, praticamente chamou de criminosos e inescrupulosos quem defende a exploração do petróleo na Margem Equatorial e canonizou quem luta contra ela.
Eu fui xingada de tudo por ter sido contrária ao que foi publicado, o que prova que essa geração é formada por individuos que não aceitam serem contrariados e que não respeitam quem lhes contraria, levando a discussão para um nível pessoal, ofensivo e baixo. Talvez, seja assim que essa geração também trata os próprios pais. Uma dessas pessoas veio no meu perfil e voltou lá para me denegrir, zombando da minha profissão. Isso é o que faz quem não tem argumento. Parte para a ofensa e desqualifica algo pessoal em quem está lhe contrariando.
Bom, voltemos ao artigo do historiador. Ele afirmou que o petróleo está sendo explorado na Guiana Francesa dizendo que o Brasil não precisa fazer o mesmo. Alguém diz para o professor da UFRJ que é a Guiana Inglesa, e não a Francesa, que está explorando e prosperando.
Aliás, a Guiana Francesa está como o Brasil, proibida de prosperar. Pelo menos, ela é oficialmente colônia da França. Enquanto o Brasil, oficialmente, não é colônia de ninguém, mas extraoficialmente, é colônia de qualquer país que quiser e que, através de suas ONG's, dita as regras aqui. Países que não têm responsabilidade nenhuma com o Brasil e que impõem suas decisões de cima para baixo com uma naturalidade impressionante e perigosa.
]Mas enquanto tivermos professores universitários mais preocupados com a imagem do Brasil e não com o povo brasileiro, seremos tratados como eternas colônias de qualquer um. Uma terra devastada, um povo na miséria, mas a imagem em alta diante de concorrentes que se vestem de bons moços enquanto se beneficiam, de todas as formas, com o nosso atraso.
O eleitor do Lula deu a ele algumas sugestões, na esperança de que seu presidente repense a "loucura" que está fazendo ao tentar tirar a autonomia do IBAMA e ao trair a agenda ambientalista que o elegeu. Ele citou três medidas:
Primeiro, a busca por compensações econômicas. Compensações que nunca chegam. O Parque do Tumucumaque é um exemplo. Levamos um calote de 81 milhões de dólares que nos foi prometido como compensação para deixar aquela área intacta e abrirmos mão do desenvolvimento. Ficamos sem ambos.
A segunda medida sugerida pelo articulista seria a busca por ampliar repasse do Fundo de Participação dos Estados ao Amapá e incrementar o financiamento para atividades econômicas alternativas. Ou seja, o Estado continuar pedindo esmola do Governo Federal. É como um filho de 40 anos que continua sendo sustentado pelos pais. Uma vergonha! Somos capazes de produzir, e até de colaborarmos com o Brasil, e de sairmos dessa posição humilhante. Fora que, via de regra, boa parte desses recursos é desviada no meio do caminho. E nossa região nunca tem seus problemas resolvidos, tornando-se um peso, mesmo tendo condições de buscar seu autossustento, usando os vastos recursos que tem, por natureza.
A terceira medida sugerida pelo historiador foi o que o atual governo mais gosta. Ampliar a arrecadação de receitas do Estado Brasileiro, através do imposto sobre grandes fortunas. É isso, pessoal! Tudo, menos explorar nossas próprias riquezas e sermos um país soberano com segurança energética.
Que tal, esse caminho? A gente recebe subsídios, a gente continua dependende em quase tudo do Governo Federal, e se for problema de grana, o governo "mete a mão" nas grandes fortunas. Incrível que eles pensam em tudo, menos no óbvio: O petróleo é nosso e nós podemos fazer o que outros países fazem - A óbvia exploração em favor de seu povo, de sua nação, de sua economia, da segurança energética que precisam para garantir a vida e a soberania.
Mas estamos vivendo um tempo em que é proibido pensar. E se você pensa, é proibido expressar. E se você expressa, você é assassinado em sua reputação por qualquer um que reproduz como um papagaio essa enxurrada de narrativas.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia