
Ex-chefe de gabinete do presidente do Congresso Nacional teria recebido 3 milhões de empresa que lavava dinheiro desviado do INSS.
O presidente do Congresso, o amapaense Davi Alcolumbre, parece atravessar uma das fases mais delicadas de sua carreira política. Nomes próximos a ele vêm sendo constantemente associados a escândalos de corrupção — dos negócios de seu suplente, o empresário Breno Chaves Pinto, aos esquemas que envolvem seu ex-chefe de gabinete, o advogado Paulo Augusto de Araújo Boudens, acusado de receber R$ 3 milhões da empresa Arpar, utilizada para lavar dinheiro oriundo de desvios no INSS.
Durante sessão da CPMI do INSS, o deputado federal Carlos Jordy criticou a postura de Alcolumbre em relação à PEC da Blindagem. Segundo o parlamentar, senadores atacam a proposta afirmando que ela protegeria corruptos, mas ao mesmo tempo o próprio presidente da casa “blinda seus pares”. Citando reportagem de O Globo, Jordy afirmou:
“Nós temos o presidente do Congresso, sr. Alcolumbre, que está protegendo senadores. Ele anunciou que manterá em sigilo de 100 anos as visitas do ‘careca do INSS’ ao Senado. O que, ou quem, Alcolumbre está querendo esconder?”
Jordy também lembrou reportagem da Veja, que aponta que a Arpar recebeu R$ 50 milhões desviados do INSS e transferiu parte desse valor — R$ 3 milhões — para o então assessor de Alcolumbre. O deputado anunciou um requerimento de quebra de sigilos bancário e fiscal de Paulo Boudens, destacando que senadores que se dizem contra a corrupção têm a obrigação de apoiar a investigação.
Escândalos em série
De acordo com o Portal da Transparência, Boudens recebe mais de R$ 31 mil mensais como servidor comissionado. A Veja já havia revelado, em 2021, outro escândalo ligado ao gabinete de Alcolumbre: um esquema de apropriação de salários de servidores — a chamada rachadinha. À época, Boudens assumiu a responsabilidade, firmou acordo com a Justiça e se comprometeu a devolver os valores desviados. Mesmo após o episódio, deixou a chefia de gabinete, mas seguiu trabalhando próximo ao senador.
As acusações lembram os primeiros mandatos de Lula, quando diversos auxiliares próximos eram alvo de denúncias, tornando improvável que o chefe não tivesse conhecimento dos esquemas.
O suplente Breno Pinto, empresário e aliado político, também enfrenta denúncias de corrupção. Proprietário da LB Construções, ele está envolvido em desvios relacionados à BR-156, obra histórica e inacabada que liga Macapá a Oiapoque. Outro empreendimento de sua propriedade, a Rio Pedreira, aparece em suspeitas de irregularidades na reforma da Rodovia Josmar Chaves Pinto. Apesar disso, Alcolumbre nega ligação direta com os contratos que beneficiaram o suplente.
No caso do escândalo do INSS, entretanto, a estratégia foi outra: decretar sigilo sobre as visitas do lobista apelidado de “careca do INSS” ao Senado, dificultando o avanço das investigações.
Blindagem política
Esse histórico reforça a percepção de que a insistência de Alcolumbre em proteger figuras como o ministro Alexandre de Moraes não se deve a convicções institucionais, mas a interesses pessoais. O próprio senador já declarou que não votaria pelo impeachment de Moraes “nem que tivesse os 81 votos”.
A postura de Alcolumbre gera desconfiança: sua recente escalada de embates políticos, como contra o senador Eduardo Bolsonaro, pode estar menos ligada à defesa da soberania ou das instituições e mais à necessidade de se proteger — e proteger seus aliados.
É justamente esse tipo de promiscuidade entre poder político e proteção judicial que a PEC das Prerrogativas buscava encerrar. Porém, a CCJ do Senado barrou o avanço da proposta.
O próximo capítulo
Agora, com a CPMI do INSS em andamento, a expectativa é de que a comissão se torne a “prova dos nove” para identificar quem realmente combate a corrupção e quem, na prática, atua para blindar corruptos — ou se manter blindado por eles.
Adriana Garcia
Jornallista na Amazônia
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