Marina Silva deixou claro submissão aos acordos internacionais e prioridade de salvar o planeta.
Na manhã desta terça-feira, 27 de maio, aconteceu na Comissão de Infraestrutura do Senado uma audiência pública marcada por fortes embates. A Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi convocada pelo senador Lucas Barreto (AP) para prestar esclarecimentos sobre a criação da Unidade de Conservação Marinha na Margem Equatorial. A sessão, presidida pelo senador Marcos Rogério, durou mais de 3 horas e foi encerrada abruptamente após a ministra se retirar, alegando ter sido desrespeitada pelo senador Plínio Valério.
Marina, dona da pasta do Meio Ambiente no governo Lula, deixou claro desde o início que sua principal orientação são os acordos internacionais. Alegou que as audiências públicas que seriam realizadas na região fazem parte de um processo iniciado há anos e não têm relação direta com a tentativa de impedir a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Segundo ela, a criação da reserva não impacta os blocos de petróleo e que a população local espera desde 2005 pela conclusão desse processo. No entanto, afirmou que, devido ao tensionamento local, o ICMBio optou por adiar as audiências, a pedido do governador do Amapá.
Durante sua fala, Marina fez questão de lembrar que sua trajetória é de defesa intransigente do meio ambiente, desde os governos anteriores do presidente Lula até o atual. Chegou a citar que possui fotos dos senadores Randolfe Rodrigues e Davi Alcolumbre, que, segundo ela, antes eram favoráveis à criação da reserva e agora se posicionam contra.
Sem responder as perguntas e com discursos vazios, Marina também desrespeita o presidente da comissão, Marcos Rogério.
Ao ser questionada, Marina fugiu das respostas e preferiu discursos longos, mencionando de Chico Mendes a Martin Luther King, reforçando sua agenda ambiental global. Paralelamente, aproveitou para fazer comparações entre o governo Bolsonaro, o atual governo e até críticas a líderes internacionais como Donald Trump. Chegou a afirmar, com convicção, que o desmatamento no Brasil diminuiu nos últimos dois anos, numa declaração recebida com incredulidade por parte dos presentes, que questionaram a desconexão com a realidade.
O senador Jaime Bagattoli (RO) criticou as restrições ambientais impostas ao Brasil. Afirmou que, antes, os produtores rurais precisavam preservar 50% de suas terras, e desde 2008, esse índice subiu para 80%. Disse que temos um dos agronegócios mais sustentáveis do mundo, com 34% das áreas de produção preservadas. Criticou ainda a criação, em 2003, de uma área de conservação de 25 milhões de hectares enquanto 21 milhões de brasileiros dependem do Bolsa Família. E disparou: "A senhora é contra mineração, contra estradas, contra tudo! Lá na China pode tudo, e aqui não pode nada."
Ele também ressaltou: “84% da Amazônia e 66% do território brasileiro estão preservados. E qual é o benefício para o povo da Amazônia além do Bolsa Família? Importamos potássio do Canadá, extraído em reservas indígenas, enquanto aqui somos proibidos de explorar nossas próprias riquezas”.
A Deputada Federal Sílvia Waiãpi e o Senador da República Lucas Barreto defendem o desenvolvimento do Amapá
O senador Lucas Barreto (AP) fez duras críticas. Disse que o Pará recebeu recentemente R$ 5 bilhões do governo e R$ 4 bilhões do BIRD, para "plantar árvore de plástico". o que é um absurdo. Questionou: "Cadê o Fundo Amazônia? O Amapá recebeu zero! Zero! Não aceitamos mais nenhuma reserva no nosso estado. Por que não criam no Pará, no Acre ou em São Paulo? O Amapá não é estado fraquinho, é hoje o mais forte no Congresso!"
Barreto reforçou que 95% da floresta primária do Amapá está de pé. "Nós já fizemos o nosso dever de casa. Ninguém quer derrubar uma folha sequer. A Amazônia tem milhões de hectares de reserva. Vai tentar propor 30 milhões de hectares de reserva em algum país para ver se eles aceitam? Nos EUA, restam apenas 17% de floresta primária. Queremos ter o direito de explorar a riqueza da nossa costa. Enquanto isso, constroem hidrelétricas no Araguari, matam milhares de árvores e ninguém fala nada. O rio está contaminado. Onde estava o Ibama? Onde estavam os artistas de palco?", questionou indignado.
O senador ainda destacou que, no Amapá, a população não vive das reservas, nem do extrativismo, mas sim do Bolsa Família. Perguntou à ministra por que há tratamento diferente na exploração de petróleo no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, e alertou sobre os riscos de vazamentos na Guiana e no Suriname: "Se houver, quem vai respeitar nosso território? Não podemos só assumir os riscos sem explorar nossas riquezas".
Embates com Omar Aziz que também é base do governo. "O isolamento do Amazonas e Rondônia já deu"!
O senador Omar Aziz (AM) reforçou a crítica: falou da conta de luz absurda na Amazônia, da falta de infraestrutura e desenvolvimento, e do isolamento que castiga a região. "Há 40 anos exploramos petróleo no Amazonas e nunca tivemos acidente ambiental. Alimentamos o mundo, mas não conseguimos alimentar o Brasil. Índio quer prosperidade, quer casa, carro e qualidade de vida. Esse Fundo Amazônia é só pra inglês ver!", disse.
Omar também fez uma pergunta que ficou sem resposta: "Qual é a média do PIB brasileiro gerado pela biodiversidade?". O clima ficou ainda mais tenso quando ele afirmou: "Queremos a BR-319, sim! Queremos o direito de passear na 319, como a senhora passeia na Avenida Paulista. A senhora trava o desenvolvimento do nosso país. Mais de 5 mil obras estão paradas por causa dessa 'governança ambiental'."
A partir daí, Marina passou a se exaltar, ofendendo senadores, inclusive o presidente da comissão, a quem chamou de "apoiador de ditador". Não respondeu objetivamente a nenhuma pergunta, adotando um tom de vitimização e acusando os parlamentares de estarem lhe desrespeitando. A senadora Eliziane Gama chegou a gritar em sua defesa.
Diante do tom de vitimismo, com a ministra tentando transformar críticas políticas em ofensas pessoais, o senador Plínio Valério (AM) foi claro: "Respeito a mulher, mas não respeito a ministra". Foi o estopim para que Marina deixasse a audiência alegando estar sendo desrespeitada e repetindo que o senador havia dito que queria "enforcá-la".
O que ficou claro é que Marina não quis ouvir o recado do Parlamento, que ecoa o sentimento do povo do Amapá e da Amazônia: não aceitam mais a criação de novas reservas, uma vez que já fizeram sua parte na preservação ambiental e agora exigem desenvolvimento.
Marina afirma cumprir as leis, mas resta saber se ela respeitará o novo marco legal para o licenciamento ambiental no Brasil, aprovado no Senado, caso também passe na Câmara. Pelo tom adotado, tudo indica que, para ela, qualquer mudança será tratada como crime contra o clima — mesmo que seja fruto do debate democrático.
Se como ministra não se submete nem ao presidente que a nomeou, muito menos aceitaria se submeter ao Parlamento. A impressão que ficou é que Marina defende uma agenda que não é a do Brasil, mas sim uma agenda que vem de fora.
A deputada Silvia Waiãpi, que aguardava para fazer seus questionamentos, não pôde falar, já que Marina se retirou antes. Segundo ela, a ministra desrespeitou o presidente da comissão e os senadores, interrompendo sistematicamente suas falas, contrariando as regras da Casa. Para Waiãpi, Marina se mostrou provocativa com quem defende o desenvolvimento econômico da Amazônia.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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