Dezenas de populares que estavam com o Sen. Randolfe pediam a Lula o boné
Quem já conhece os meus textos sabe que adoro o estilo crônica. De repente, um acontecimento me salta aos olhos, me leva a vários assuntos correlatos de cunho opinativo e eu só sossego quando tiro da cabeça e coloco aqui. Um desses acontecimentos foi o vídeo do Senador Randolfe publicado em suas redes sociais, onde ele estava no meio de dezenas de pessoas, falando que o Presidente Lula estará em Macapá, dia 13, e perguntando ao povo o que o povo quer que ele traga. E, com uma animação de quem ensaiou, mas que realmente deseja muito o objeto azul com a frase "O Brasil é dos brasileiros", eles gritavam: "queremos o boné"! Veja meu artigo anterior O BONÉ DO POLITICAMENTE CORRETO.
Essa cena parecia que estava pintando um quadro vivo do nível de educação da populaçao do Estado onde mais de 70% das famílias sobrevivem de benefícios sociais. Elas se contentam com um boné, quando estão pisando num solo que guarda a tabela períódica. Elas nem mesmo compreendem a profundidade da mensagem que está no adereço, sem saber fazer correlação com a prática que contradiz a mensagem, quando persiste proibição do atual governo para a PETROBRÁS pesquisar e explorar o petróleo na Margem Equatorial.
Será mesmo que o Brasil é dos brasileiros? Se assim fosse, explorar nossas riquezas e nos beneficiarmos delas não seria um crime. Trabalhar e gerar renda, qualidade de vida, ter uma boa educação, um bom sistema de saúde, segurança pública, estradas, deveria ter o poder público como maior incentivador o e não como maior obstáculo.
Num mundo em que todas as nações precisam de segurança alimentar e energética, o Brasil tem o melhor Agro e uma riqueza em minerais, especialmente em petróleo, porém, ambas atividades econômicas que dariam essa segurança são colocadas na berlinda, a todo momento. Será mesmo que esse boné tem algum sentido, já que a prática é oposta? Não investir para que o Brasil seja autossustentável, mesmo tendo todos os recursos para isso, é justamente tirar o Brasil dos brasileiros. É um crime contra quem aqui vive. Mas a maioria das vítimas se encanta com um boné, literal ou figurativo. Boné é o benefício social que muitos não querem perder e até se recusam a trabalhar, para continuarem recebendo. Boné é a cesta básica, é o abraço de tamanduá que a maioria dos políticos dão no povo a quem eles traem de todas as formas.
Sinceramente, não sei qual é o maior desafio. O IBAMA liberar, ou o povo entender e se posicionar. Parar de ser pedinte e começar a se ver produzindo, trabalhando, lutando por sua dignidade. Como jornalista, eu tenho me desdobrado para chegar até essas pessoas com a verdadeira informação. Mas é como se, para muitas delas, eu estivesse falando grego. Parece um conteúdo de inalcansável compreensão. Vivemos o desafio de levar um povo a sonhar algo que nem mesmo ele tem referência que existe ou o que é. Como levar pessoas a sonharem com uma casa que elas vão construir com seu próprio salário, se elas só sabem o que é não ter nada ou, quando elas têm, foi o governo que "deu"?
Como fazê-las entender que governo não produz e não dá nada e que quem paga tudo isso somos nós? Como fazê-las sonharem com um hospital com todos os exames, que elas não precisem mais madrugar na fila para conseguir uma consulta para daqui há 6 meses? Como dizer a elas que elas merece e a Constituição Federal garante, mas elas não têm segurança, a saúde precária. Nunca tem o aparelho de ressonância? Como fazê-las imaginar o que, em sua cabeça, não cabe? Só cabe o boné do Marketing de quem lhe nega tudo? Como ajudar quando o sofrimento se torna parte da "cultura"?
O IBAMA está preocupado com os animais que podem ser afetados, caso tenha vazamento de óleos. Ele exige um local o mais próximo possível, se for preciso socorrer esses animais. Ele já verificou quantos seres humanos morreram no Oiapoque por estarem sem estradas, o acesso é precário, não terem saúde, por não terem tempo de chegar à capital para serem socorridos? Já pesquisou a lista das vitimas da não exploração de nossas riquezas? Pessoas que nascem, vivem e morrem sem receber o mínimo de dignidade e desconhecendo o que é cidadania?
O IBAMA e a Marina Silva, chancelados pelo seu chefe, conseguem se compadecer até daquilo que já foi provado que não existe - os corais na Amazônia - mas não se compadecem dos que padecem famintos priobidos de provarem do que é seu. Sem provarem dos benefícios sociais e econômicos que a exploração do petróleo trará para a região mais carente do Brasil. Será um grande desafio tirar da cabeça do povo o "desejo pelo boné" e acordá-lo para dizer que o Amapá "ganhou na loteria" mas aqueles que lhes dão o "boné", não querem lhe entregar o "prêmio". Desafio maior será preparar esse mesmo povo para fazer bom uso do prêmio. Mas vamos por parte e, com a paciência de Jó, tentar desencantar os encantados por várias formas de "bonès" que por quinhentos anos, usurparam deles a dignidade!
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia