
A sociedade civil organizada segue mobilizada e Petrobrás revisará o plano conforme novas observações do IBAMA
Em mais um capítulo da novela “Petróleo na Margem Equatorial”, nesta quarta-feira (24), o Ibama finalmente aprovou a Avaliação Pré-Operacional (APO) apresentada pela Petrobrás em agosto. Trata-se de um simulado de resposta a emergências, última etapa antes da tão aguardada licença ambiental para perfuração na margem equatorial.
A notícia foi recebida com entusiasmo por grupos que defendem a exploração de petróleo na região. Para eles, a pressão da sociedade civil organizada começa a dar resultado. Nas redes sociais, políticos locais também comemoraram a conquista.
Expectativas e incertezas
A licença definitiva deve ser concedida apenas após a COP 30, prevista entre 10 e 21 de novembro. Ainda assim, para quem espera há décadas, a aprovação da APO é um sinal de que a exploração é apenas uma questão de tempo.
No Oiapoque, os efeitos da indústria de óleo e gás já começam a aparecer: crescimento desordenado, especulação imobiliária e aumento dos preços de imóveis para venda e locação. Apesar das vantagens que virão, o estado enfrenta desafios que exigirão planejamento, foco e preparo da sociedade para absorver as oportunidades. Afinal, crescer dói – e isso vale também para um Estado ou um país.
Estrutura precária e desafios políticos
O paradoxo está no fato de que o mesmo grupo político que governa o Amapá há 30 anos, hoje tenta se apresentar como protagonista da exploração petrolífera, mas nunca conseguiu concluir sequer a BR-156, considerada a obra mais antiga do Brasil, iniciada há quase um século. Uma rodovia em boas condições seria o mínimo de infraestrutura para receber uma indústria de tamanha magnitude.
Ao contrário, a estrada está sob investigação envolvendo o DNIT e o empresário Breno Pinto, suplente do senador Davi Alcolumbre, em escândalos de desvio de verbas. O município de Oiapoque também nunca recebeu a estrutura mínima e segue mergulhado em denúncias de corrupção.
Esse histórico faz a população temer que os recursos dos royalties sejam desviados e não cumpram sua finalidade: compensar e promover melhorias socioeconômicas e estruturais nos municípios afetados.
O protagonismo de Macapá
Na capital, porém, a situação é diferente. O prefeito Dr. Furlan, muito antes do tema ganhar destaque, vem há quase cinco anos promovendo obras estruturantes que deixam a cidade mais preparada para se tornar polo de apoio ao setor petrolífero. Melhorias no trânsito, nas vias públicas, na saúde e na educação colocam Macapá em posição estratégica para receber empresas de logística, serviços e metalonavais.
Com visão de longo prazo, a prefeitura firmou ainda um acordo de cooperação técnica com Macaé (RJ), cidade referência em exploração offshore. O resultado já se reflete na capacitação técnica e na tomada de decisões assertivas.
“Recebemos com entusiasmo essa conquista da aprovação da APO. Estamos fazendo o dever de casa para que Macapá se torne um polo industrial de apoio à Margem Equatorial, garantindo que grandes empresas se instalem aqui”, afirmou o prefeito, lembrando que a capital concentra 60% da população do estado.
Seu aliado político, o senador Lucas Barreto, e a deputada Silvia Waiãpi foram os únicos parlamentares que enfrentaram diretamente a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em defesa do direito do Amapá prosperar como outros estados.
O peso da demora
A Petrobrás, que aguarda há quatro anos a liberação para perfurar, já acumula prejuízos bilionários.
“Só para manter a plataforma parada são 550 mil dólares por dia. Multiplique isso por quatro anos e some ainda os custos de barcos de apoio e aeronaves. É um prejuízo imenso”, disse um empresário do setor de óleo e gás.
Para muitos, a demora é resultado de entraves ideológicos e não técnicos. A Petrobrás, maior empresa brasileira e uma das líderes mundiais do setor, tem histórico de responsabilidade ambiental e potencial para transformar não apenas a segurança energética do país, mas também a realidade social e econômica do Amapá.
Um estado à espera de desenvolvimento
A população amapaense espera há séculos por um desenvolvimento capaz de melhorar a qualidade de vida e reduzir sua dependência de programas sociais – hoje, 73% vivem de algum benefício estatal. Muitos jovens migram para o sul do país em busca de oportunidades.
A indústria de óleo e gás, portanto, representa mais do que crescimento econômico: simboliza libertação social e política, podendo tornar o voto do povo mais consciente e independente.
O próximo capítulo
Apesar da aprovação da APO, o Ibama impôs condicionantes que podem atrasar ainda mais a emissão da licença. Enquanto isso, a Petrobrás segue acumulando perdas diárias de 550 mil dólares.
A sociedade civil do Amapá, porém, mantém-se mobilizada e vigilante, ciente de que este pode ser o início de um novo ciclo histórico para o estado – desde que haja responsabilidade, transparência e preparo para transformar riqueza natural em desenvolvimento real.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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